sexta-feira, 21 de agosto de 2009

PIO IX PUBLICA O "SYLLABUS"

Desde a revolução de 1848, tropas francesas e austríacas protegiam os Estados Pontifícios contra os revolucionários italianos, e a Santa Sé não tinha um exército próprio para se opor ao governo do Piemonte. Com a mudança política de Napoleão III e sua vitória na guerra contra a Áustria, a situação se agravou, pois a defesa dos territórios da Igreja ficou na dependência exclusiva da França, que passou a auxiliar a unificação italiana, permitindo mesmo que o Piemonte se apoderasse de domínios do Papa. Pio IX protestou energicamente contra as espoliações de que fora vítima a Santa Sé com a conivência e com o auxílio do governo imperial. Como conseqüência, houve uma tal manifestação da opinião pública francesa contra a política italiana de Napoleão III, que este se viu obrigado a exigir que o Piemonte se contentasse com as vantagens que já obtivera.

Em 1864 Pio IX ficou gravemente doente, e o Imperador julgou o momento oportuno para dar mais um passo na unificação da Itália. A 15 de setembro assinou com os plenipotenciários do governo de Turim uma convenção, conhecida como convenção de setembro, pela qual as tropas francesas seriam retiradas dos Estados Pontifícios. Para salvar as aparências, a capital da Itália unificada era fixada em Florença, como se tivesse sido abandonado o propósito de estabelecê-la em Roma; o Piemonte se comprometia a não atacar nem deixar atacar a Cidade Eterna; e a Santa Sé poderia equipar um exército próprio, com a condição de não ser muito forte, ou seja, de não perturbar a paz na península.

Tudo fora combinado no maior segredo, a ponto de Pio IX, a Imperatriz Eugênia e o próprio Rei Vítor Emanuel só terem conhecimento da convenção depois de ela assinada. O Papa protestou, e logo tratou de organizar um exército, mas é claro que só com o tempo este poderia adquirir a necessária eficiência. A Santa Sé ficava pois à mercê dos revolucionários italianos.

Por outro lado, na França a ofensiva dos católicos liberais continuava; menos declarada, porém mais astuta e não menos viva. Assim é que no segundo congresso de Malines, realizado nesse ano de 1864, Montalembert foi substituído por Mons. Dupanloup, muito mais hábil e mais diplomático.

Disposto a pôr cobro a todos esses erros, no dia 8 de dezembro de 1864 Pio IX publicou a encíclica "Quanta Cura", condenando o liberalismo, e um catálogo de erros liberais já fulminados pelos Soberanos Pontífices, o célebre "Syllabus".

Esses dois documentos foram acolhidos com enorme emoção. O governo francês proibiu a sua publicação e quis impedir que os bispos os divulgassem. No entanto, eram documentos importantes demais para que se fizesse silêncio sobre eles. Ninguém se preocupou com a proibição do governo, e logo teve início uma violenta polêmica entre os partidários e adversários do "Syllabus", passando este a ser o objeto dominante de todas as preocupações.

Montalembert, vendo que a Encíclica "Quanta Cura" e o "Syllabus" eram a condenação completa do catolicismo liberal, resolveu, de acordo com Augustin Cochin e o Príncipe de Broglie, fechar o "Correspondant". Em carta ao Conde de Falloux, ele diz: "Caro amigo, parto neste mesmo instante para a solidão de Morvan, para aí amortalhar a minha dor e — é preciso confessar — a minha vergonha. Já não tenho senão uma ambição: a de nos ver unidos no naufrágio, como o fomos nas lutas por mais de vinte anos".

Os jornais ultramontanos defendiam a encíclica e o "Syllabus" contra a verdadeira avalanche de ataques que vinha de todos os lados: eram os inimigos da Igreja, os partidários da Revolução, os saudosistas do tempo de Luiz Filipe, enfim todos os que viam com mágoa e apreensão a solene condenação do liberalismo e da Revolução.

Mons. Dupanloup recebeu a notícia da Encíclica quando preparava o protesto contra a convenção de setembro, e imediatamente começou a elaborar uma interpretação que diminuísse o efeito do golpe vibrado contra o catolicismo liberal. A 23 de janeiro de 1865, lança ele o seu famoso livro "A convenção de 15 de setembro e a encíclica de 8 de dezembro". Misturando as duas questões, podia defender Pio IX ao mesmo tempo que defendia seus amigos liberais. Os ataques contra a encíclica eram de todos os tons. Selecionando cuidadosamente o que lhe convinha refutar, o Bispo de Orléans mostrava quanto de errado tinham as investidas dos inimigos da Igreja, e voltava novamente a aplicar a distinção entre tese e hipótese no que diz respeito aos erros fulminados pelo Papa.

Em quinze dias foram vendidos 100.000 exemplares do livro de Mons. Dupanloup, e poucas semanas depois numerosos bispos o tinham felicitado. O Santo Padre Pio IX congratulou-se com ele, por ter repelido tão bem as interpretações ineptas, desleais e caluniosas publicadas a respeito do "Syllabus", e aconselhou-o a completar o livro com o que era necessário dizer quanto à doutrina. Mons. Dupanloup não seguiu o conselho de Pio IX. Apesar da interpretação que ele fez da encíclica, o catolicismo liberal fora seriamente atingido, e nunca mais teria o brilho e o impulso que marcara o seu desenvolvimento desde o fechamento do "Univers".

Pio IX, por outro lado, já nessa época preparava em segredo o Concílio do Vaticano. A 6 de dezembro de 1864, dois dias antes de publicar a encíclica, comunicara ao Sacro Colégio sua intenção de reunir um grande concílio. E em março de 1865 constituiu uma comissão de cinco cardeais para discutir as questões preliminares. No Concílio do Vaticano, as últimas manifestações dessa primeira fase do catolicismo liberal vão dar a triste medida dos erros desse movimento.

Um comentário:

ayslanhudson disse...

e em 1870 o que aconteceu com Pio IX mesmo ein?