sexta-feira, 17 de julho de 2009

A Pseudo-reforma Protestante!

Estimados Irmãos de nossa Familia de Almas da OC,


Na última semana falei-lhes sobre uma discussão com um jovem interiorano a cerca de verdades da Fé. Causou- considerável preocupação a rapidez com que as seitas protestantes atuam na mente de individuos, relativamente intelectualizados, por meio da coarção da trilogia do "Ceú-inferno-condenação", utilizando-se da livre interpretação da Biblia.


Dado este fato, busquei alguns argumntos que desejo que divulguemos e estudemos em nossas reuniões nas sedes e encontros, sobretudo com os nossos mais jovens, no intuito de blindar-lhes um possivel "ataque Crente".


São trechos de estudos importantes.


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O orgulho e a sensualidade, em cuja satisfação está o prazer da vida pagã, suscitaram o protestantismo.

O orgulho deu origem ao espírito de dúvida, ao livre exame, à interpretação naturalista da Escritura. Produziu ele a insurreição contra a autoridade eclesiástica, expressa em todas as seitas pela negação do caráter monárquico da Igreja Universal, isto é, pela revolta contra o Papado. Algumas, mais radicais, negaram também o que se poderia chamar a alta aristocracia da Igreja, ou seja, os bispos, seus príncipes. Outras ainda negaram o próprio sacerdócio hierárquico, reduzindo-o a mera delegação do povo, único detentor do poder sacerdotal.

No plano moral, o triunfo da sensualidade no protestantismo se afirmou pela supressão do celibato eclesiástico e pela introdução do divórcio.



Causas da Pseudo-reforma



A revolução protestante, conhecida como Pseudo-reforma, constitui, juntamente com a Renascença, a primeira etapa do processo multissecular de destruição da Civilização Cristã, que teve início com a decadência da Idade Média.

Renascença e protestantismo são movimentos intimamente conjugados. Ambos tiveram as mesmas causas. Entretanto, em algumas partes da Europa o estado de espírito que deu origem ao Renascimento "se desenvolveu sem levar à apostasia formal. Importantes resistências se lhe opuseram. Mesmo quando ele se instalava nas almas, não lhes ousava pedir — de início, pelo menos — uma formal ruptura com a Fé. Mas em outros países ela investiu às escâncaras contra a Igreja. O orgulho e a sensualidade, em cuja satisfação está o prazer da vida pagã, suscitaram o protestantismo".

Certos manuais de História apresentam como sendo causas do protestantismo alguns fatos que à primeira vista, para um leitor menos avisado, podem causar certa impressão. Entretanto, analisados objetivamente, tais fatos não encontram qualquer fundamento. Vamos examinar brevemente algumas das pretensas causas da Pseudo-reforma.

Ao realçar a importância do fator liberal e igualitário no protestantismo, bem como no humanismo e na Renascença, não pretendemos negar que outras causas tenham concorrido para a gênese e expansão desses movimentos. Dizemos apenas que na origem, na psicologia, nas doutrinas, no que hoje chamaríamos de êxito propagandístico e nas realizações desse movimento, representou o papel de força mestra a ação das tendências desordenadas, de sentido radicalmente anárquico e igualitário.



Pretextos da revolução protestante e sua refutação


Pretexto - A Igreja Católica encontrava-se em uma fase de decadência. Os abusos proliferavam. A venda de cargos eclesiásticos, a vida de luxo em que vivia o alto clero, a corrupção de muitos prelados escandalizavam os fiéis. A reforma foi uma reação contra este estado de coisas, com o objetivo de restaurar a Igreja e restabelecer a sua simplicidade primitiva.

Refutação - Descontados todos os exageros apresentados por certos livros de História, lamentavelmente havia na época muitos abusos, e era grande a decadência dos costumes eclesiásticos. A par, aliás, de muita virtude e muita santidade. Entretanto, os historiadores modernos reconhecem que isto não foi verdadeiramente a causa da revolução protestante.

A verdadeira reforma católica, e que corrigiu verdadeiramente os abusos existentes, teve início antes de Lutero começar a difundir os seus erros. Portanto, quando explodiu a Pseudo-reforma, as condições da Igreja haviam melhorado sensivelmente. Os verdadeiros reformadores católicos já haviam iniciado a sua obra regeneradora.

Ademais, a vida corrupta de Lutero e de outros falsos reformadores desmente essa alegação, pois de fato eles contribuíram para aumentar a decadência dos costumes, permitindo a introdução do divórcio e até autorizando a bigamia, além de abolir o celibato eclesiástico.

Finalmente, o que os protestantes atacavam não eram os eventuais abusos, mas a própria instituição hierárquica do clero e o que a doutrina católica tinha de mais essencial. A doutrina de Lutero mostra bem que ele pregava uma nova religião, e não uma reforma na Igreja Católica.


Pretexto - A Bíblia, palavra de Deus, era desconhecida dos fiéis. Os padres escondiam a Bíblia, para impor ao povo simples uma religião que não correspondia aos verdadeiros ensinamentos de Cristo, e assim conservar os seus privilégios pessoais.

Refutação - Em qualquer época histórica, a Igreja recomenda aos fiéis cautela na leitura da Bíblia, dada a grande dificuldade de interpretação de certos textos.

Isto entretanto não significa que naquela época os fiéis não pudessem ler os Livros Sagrados. Muito antes de Lutero, com o desenvolvimento da imprensa, a Bíblia era largamente difundida pelos vários países da Europa. Desde o aparecimento da imprensa até 1520, surgiram 156 edições da Bíblia am latim. Para atender ao público que não entendia o latim, foram feitas numerosas traduções para a língua vernácula. Entre 1466 e 1520 surgiram 22 edições da Bíblia traduzida para o alemão. A primeira tradução italiana surgiu em 1471; a holandesa em 1477; a francesa em 1487; e a espanhola em 1485. A tiragem de cada edição variava de 250 a 1600 exemplares.

Portanto, a afirmação de que foram os protestantes que possibilitaram ao povo a leitura da Bíblia não passa de uma das muitas invenções criadas pelo ódio à Igreja Católica, sem qualquer fundamento histórico.


Pretexto - A Religião, como aliás toda a sociedade humana, é fruto da economia. As grandes transformações econômicas do século XVI tiveram grandes repercussões no terreno religioso, dando origem à reforma protestante.

Refutação - Essa tese corresponde à interpretação marxista da História. O materialismo histórico é que coloca a economia como sendo o eixo em torno do qual giram os acontecimentos humanos.

Se esta tese fosse verdadeira, a reforma protestante deveria ter estourado na Itália, que era sem dúvida a mais "avançada" região européia da época. A Itália prosperava enormemente, e seus homens de negócio manobravam grande parte da economia de então. Basta lembrar o exemplo dos Médicis, para se ter uma idéia do desenvolvimento econômico da Península. A burguesia italiana era uma das mais prósperas e importantes do século XVI. Pelo contrário, a revolução protestante encontrou seus primeiros sucessos na Alemanha, menos desenvolvida economicamente naquele tempo.

Convém lembrar ainda que os grandes homens de negócio, os que manobravam as grandes fortunas, até o século XVII eram em sua maioria católicos.


Pretexto - A reforma foi uma conseqüência da ambição dos príncipes alemães, que queriam apoderar-se dos bens da Igreja e subtrair-se à autoridade do Imperador.

Refutação - É certo que a ambição dos príncipes alemães contribuiu poderosamente para a consolidação e expansão do protestantismo, como também é certo que alguns deles procuraram tirar vantagens políticas e econômicas da luta religiosa. Mas é historicamente certo também que a maioria dos príncipes que apoiaram Lutero agiu por razões religiosas.

Além disso, a posição dos príncipes que apoiavam a revolução protestante não era tão cômoda como parece. Na Alemanha, por exemplo, os príncipes protestantes tiveram que travar uma guerra prolongada com o Imperador Carlos V. Portanto, apoiar os protestantes não era tão vantajoso assim. Inclusive corriam o risco de perderem os próprios bens, em caso de derrota.

Por outro lado, houve na mesma época príncipes católicos que, apesar de perseguir os protestantes, também confiscaram bens eclesiásticos, como foi o caso do Rei Francisco I, da França.


Pretexto - O protestantismo foi fruto da revolta das classes humildes contra as oligarquias eclesiásticas e civis dominantes na época.

Refutação - Esta tese pode ser refutada apenas pela demonstração de que havia protestantes em todas as classes sociais, desde os camponeses até a mais alta nobreza. A parte mais propulsora do protestantismo era precisamente a formada pelo alto clero, alta burguesia e alta nobreza. Basta citar o exemplo da Inglaterra, em que o Rei Henrique VIII, com o apoio do episcopado e da nobreza, levou toda a nação à apostasia.


Pretexto - O Papa Leão X, com o objetivo de conseguir dinheiro para a construção da Basílica de São Pedro, iludia o povo ignorante com a venda de indulgências. Lutero revoltou-se contra isso e procurou esclarecer o povo. Em conseqüência, foi excomungado e expulso da Igreja.

Refutação - Indulgência, no sentido mais amplo da palavra, significa perdão da culpa ou pena merecida. Em linguagem teológica tem sentido mais restrito, e significa o perdão da pena que se deveria sofrer no Purgatório pelos pecados já cometidos, e já perdoados quanto á culpa.

Deus, ao perdoar os pecados, pode reservar-lhe certa pena ou castigo a sofrer no Purgatório. Para evitar essa pena, temos dois modos: um é praticar boas obras na graça de Deus; o outro é alcançar indulgências. Por estas, a autoridade eclesiástica perdoa-nos no todo ou em parte essa pena, aplicando em nosso favor as satisfações de Cristo e dos santos.

Para lucrar as indulgências, além dos requisitos que prescreve quem as concede, é necessário estar na graça de Deus. A doutrina das indulgências sempre foi aceita e posta em prática na Igreja.

O Papa Leão X, para conseguir fundos para a construção da Basílica de São Pedro, concedeu uma indulgência plenária a quem, estando nas disposições necessárias para lucrar a indulgência, entregasse uma esmola para esse fim. Lutero, que não admitia a necessidade da cooperação do homem na obra da salvação, não aceitava a doutrina da Igreja sobre as indulgências. Pode ter havido abusos, mas foi contra a própria doutrina católica a respeito desse ponto que Lutero se revoltou.

Aliás, a "questão das indulgências" foi mero pretexto para a revolta. Vários anos antes, Lutero já defendia e propagava idéias abertamente heréticas. Por detrás da questão das indulgências estava a negação de vários outros pontos doutrinários.



Os precursores da Pseudo-reforma


Como ensina o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em "Revolução e Contra-Revolução", a Revolução é processiva. Logo, os erros protestantes não apareceram de uma hora para outra. Ao longo do processo de decadência da Idade Média, vários heresiarcas tentaram impor as doutrinas que mais tarde foram defendidas por Lutero e Calvino. São os precursores da revolução protestante. Os dois mais importantes foram Wiclef e João Huss.


Wiclef

No século XIV, John Wiclef (1324-1384), professor da Universidade de Oxford, na Inglaterra, começou a atacar vários pontos da doutrina da Igreja: Negava a transubstanciação; combatia as indulgências, o culto dos santos e das relíquias; apresentava a Bíblia como a única fonte de Revelação; condenava o celibato eclesiástico; não aceitava a tradição; atacava a autoridade do Papa e toda e qualquer hierarquia eclesiástica. Como certos heresiarcas modernos, ele falava na necessidade de fazer a Igreja retornar à sua simplicidade primitiva. Como se vê, certas heresias modernas são bem mais anacrônicas do que parecem...

Condenado em 1382, Wiclef retratou-se. Seus partidários mais exaltados continuaram o movimento, procurando estabelecer na Inglaterra uma igreja cismática. Dominados por um fanatismo extremado, provocaram diversos conflitos. A autoridade civil foi obrigada a intervir, e vários foram executados.

Segundo um conhecido historiador francês, a nova igreja defendida por Wiclef foi uma pré-figura da igreja de Lutero e Calvino.


João Huss

A antiga Boêmia, que atualmente constitui metade da Checoslováquia, foi durante muito tempo um foco de heresias. A mais importante foi a difundida por João Huss, reitor da Universidade de Praga.

João Huss era adepto das doutrinas de Wiclef. Segundo ele afirmava, o poder temporal do Papa foi criado por Constantino, e isso fez com que a Igreja se afastasse de seu ideal primitivo. Todos os males de que a Igreja sofria na época, em sua opinião, tinham a sua raiz neste ponto. O remédio seria então fazer a Igreja retornar à sua pureza primitiva. Se João Huss vivesse no século XX, suas idéias teriam sucesso garantido em certos meios...

Para conseguir simpatia para suas doutrinas, João Huss procurou explorar o sentimento patriótico da população local. A Boêmia vivia na dependência do Sacro Império. A Casa d’Áustria, que nessa época governava o Império, era a grande defensora da ortodoxia. Daí a repulsa de João Huss por ela.

João Huss foi excomungado pelo Papa Alexandre V e condenado à fogueira pelo Concílio de Constança, em 1415. Fim semelhante teve o seu principal discípulo, Jerônimo de Praga. Em conseqüência disso, os seus partidários, os hussitas, provocaram uma longa guerra civil, que durou até 1471.



O luteranismo


Martinho Lutero nasceu em Eisleben, em 1483, de família católica e de costumes severos. em 1505 recebeu o grau de mestre na Universidade de Erfurt, após a realização dos estudos superiores. Na Universidade, recebeu uma formação filosófica com base no ockamismo, isto é, a filosofia de Guilherme de Ockam. O ockamismo surgiu em oposição ao tomismo, e exerceu uma influência profunda no processo de decadência da Idade Média.

No mesmo ano de 1505, apesar de desaconselhado pelo pai e amigos, ingressou no convento dos agostinianos eremitas observantes. Um ano depois, após fazer a profissão religiosa, iniciou os estudos de teologia, utilizando principalmente as obras de Gabriel Biel, o principal representante do Ockamismo no século XV.

Embora alguns historiadores apresentem a "questão das indulgências" como sendo o início da revolta luterana, ele já havia rompido com os pontos mais fundamentais da doutrina católica vários anos antes. Suas aulas na Universidade, seus escritos, seus sermões e sua correspondência provam que desde 1508 ele já defendia de modo mais ou menos explícito os erros que formam a base da doutrina protestante. Portanto, de fato, a "questão das indulgências" constitui apenas um ponto dentro do conjunto de erros defendidos já anteriormente por Lutero.

Em 1508 ingressou na Universidade de Wittenberg, onde trabalhou contra a filosofia escolástica. A princípio lecionou dialética e ética, doutorando-se mais tarde em Teologia. Em 1516 publicou a "Teologia Alemã", obra eivada de princípios gnósticos e panteístas.

Nesse período Lutero foi elaborando seus princípios heréticos. Em aula, nos sermões, na correspondência, ia expondo de forma velada suas novas idéias. Chegou a formar em torno de si um círculo de adeptos, constituído por alguns alunos e mesmo alguns professores. Suas doutrinas foram aos poucos se difundindo até no interior da Ordem agostiniana. Desse modo Lutero foi preparando o terreno em torno de si. Quando se revoltou abertamente contra a Igreja, já tinha um bom número de discípulos.

O sistema de estudos da época era um tanto diverso do nosso. Era comum os doutores das grandes universidades levantarem determinadas teses e desafiarem algum adversário para um debate público. Aproveitando-se deste costume, Lutero começou a levantar para debates públicos teses inteiramente heréticas.

Em 1517, tomando como pretexto a pregação das indulgências, Lutero afixou na porta da igreja de Wittenberg 95 teses, desafiando um possível adversário para um debate. Dentre essas teses, havia muitas inteiramente ortodoxas, enquanto outras eram inteiramente contrárias à doutrina católica. Por exemplo, negava o poder da Igreja para perdoar os pecados, negava o purgatório e o valor das indulgências e criticava a riqueza da Igreja.

Não tardaram a surgir teólogos católicos a defenderem a doutrina verdadeira contra os erros de Lutero. Os principais neste período foram Wimpina, Tetzel e Eck. As discussões tornaram-se acaloradas. Os polemistas católicos desmascararam completamente Lutero — que não havia ainda rompido oficialmente com a Igreja — apontando todos os seus erros.

Quando as primeiras notícias chegaram a Roma, não se deu ao fato a devida importância. O Papa Leão X encontrava-se inteiramente absorvido pelo movimento renascentista. E chegou mesmo a dizer: "Tenho Frei Martinho por uma boa cabeça; tudo isso não é senão uma querela de frades". A idéia de condenar Lutero como herege foi rejeitada. A primeira providência do Papa foi encarregar o superior dos agostinianos, Staupitz, de procurar conter Lutero. Mas Staupitz era um dos principais admiradores de Lutero, ficando a ordem sem efeito.

O problema, a cada momento, aumentava de proporções. As polêmicas tornavam-se cada vez mais agudas, e as notícias chegadas a Roma eram cada vez mais alarmantes. Foram tentados por Roma vários meios de se chegar a um acordo. Entretanto, Lutero tornava-se cada vez mais ousado e arrogante em seus ataques à Igreja. Finalmente, em 1520 foi promulgada a bula "Exsurge Domine", que, sem mencionar Lutero, condenava os seus erros. Na mesma ocasião, Lutero foi informado de que seria excomungado se não se retratasse dentro de 60 dias. Porém ele continuou a difundir suas doutrinas heréticas. Diante de um grande número de alunos e professores da Universidade, queimou publicamente a bula pontifícia. Em conseqüência, foi excomungado pela bula "Decet Romanum Pontificem".



Propagação da doutrina luterana


As doutrinas de Lutero se espalharam com rapidez pela Alemanha. A sua difusão provocou enorme agitação por toda parte. Em vista disso, o Imperador Carlos V intimou Lutero a comparecer perante a Dieta de Worms (dieta era uma assembléia anual existente no Sacro Império, composta pelos príncipes eleitores, nobres e representantes das cidades livres). Diante da assembléia, Lutero recusou-se a fazer a retratação de seus erros e foi desterrado; a Dieta ordenou que seus escritos fossem queimados.

Temendo sua condenação pelo poder civil, o príncipe Frederico da Saxônia deu-lhe proteção, conduzindo-o ao castelo de Wartburg. A heresia continuou a propagar-se. Tentando deter a onda de anarquia que a difusão de suas idéias havia provocado, Lutero procurou o apoio do poder civil e declarou que em cada Estado o príncipe era o pastor, o pai e o chefe visível da Igreja sobre a Terra. Baseados nesta declaração os príncipes alemães proclamaram-se chefes da Igreja e apoderaram-se dos bens do clero.

O mau exemplo dado pelos nobres, que confiscaram os bens da Igreja, contagiou as classes mais baixas, que avançaram também sobre os bens de seus senhores. No sul do Império as novas doutrinas provocaram um levante de camponeses, que defendiam a igualdade social e a partilha dos bens. Ocorreram as maiores violências. Lutero, chamando então os rebeldes de "cães raivosos", incitou os príncipes a massacrá-los. O número de mortos chegou a vinte mil.

A Dieta de Espira, reunida em 1529, procurou mais uma vez solucionar o problema. Foi resolvido então que a doutrina luterana seria tolerada nos locais onde já estivesse estabelecida, mas seria proibida a sua difusão nas regiões onde ainda não havia penetrado. Cinco príncipes e quatorze cidades livres protestaram contra essa decisão. A partir de então os seguidores de Lutero ficaram conhecidos pelo nome de "protestantes".

O Imperador Carlos V, embora apoiasse os católicos, adotou uma política de conciliação. Além disso, em muitas ocasiões deixou-se dominar por interesses políticos, em prejuízo da causa católica. Um ano após a Dieta de Espira, reuniu a Dieta de Augsburgo, tentando obter uma conciliação entre católicos e protestantes. A tentativa fracassou completamente. Durante as discussões, os luteranos sentiram a necessidade de definir exatamente sua doutrina. Melanchton, "moderado" e partidário da conciliação, redigiu a Confissão de Augsburgo, composta de 28 artigos, que se tornou o "credo" da igreja luterana. Muitos não aceitaram esse "credo", e o luteranismo começou a dividir-se em várias seitas antagônicas.

Em Augsburgo, os príncipes católicos, ao lado do Imperador, renovaram as condenações da Dieta de Worms contra Lutero. Os príncipes protestantes formaram então a Liga de Smalkalde. Começou assim a guerra civil. O Imperador, auxiliado por Maurício da Saxônia, derrotou os protestantes em Mühlberg. Após a vitória, resolveu fazer várias concessões, que entretanto não satisfizeram os hereges. Iniciou-se uma segunda guerra, que terminou com a Convenção de Passau, permitindo o livre culto a católicos e protestantes. Pouco depois a guerra civil voltou a explodir. Carlos V abdicou, e seu irmão Fernando, que assumiu o trono, assinou a paz de Augsburgo. Reconhecia-se a secularização dos bens da Igreja, e os príncipes ficaram com o direito de impor aos súditos a sua própria religião.

A política de conciliação de Carlos V e a lentidão com que Roma interveio no caso contribuíram para a consolidação do protestantismo.

Além da Alemanha, o luteranismo dominou outras regiões da Europa. A Prússia era um antigo feudo da ordem Teutônica. Em 1525, Alberto de Brandenburgo, Grão-Mestre da Ordem, aderiu ao luteranismo e fundou o ducado da Prússia. A heresia luterana teve também grande penetração na Noruega, Suécia e Dinamarca.



Principais erros luteranos



No plano doutrinário

Como está demonstrado em “Revolução e Contra-Revolução”, as más tendências exercem poderosa influência na elaboração das más idéias. O homem decaído procura engendrar doutrinas falsas para justificar suas paixões. Esta é verdadeiramente a origem dos erros protestantes. Sendo o protestantismo o resultado de uma explosão de orgulho e sensualidade, vamos encontrar na doutrina protestante marcas profundas dessas duas paixões.

Segundo Lutero, a tendência do homem para o mal é irresistível. O livre arbítrio é uma mera ficção, pois que a natureza humana é totalmente corrompida pelo pecado original. Lutero considera o homem como um instrumento movido por uma ação exterior de Deus, um ser completamente passivo, que Deus move como uma massa inerte. O próprio Deus, segundo ele, impulsiona a vontade do homem tanto para o bem quanto para o mal. Negando o livre arbítrio, ele atribui a Deus os crimes do homem, ensinando o fatalismo e pretendendo que o homem predestinado para a salvação se salva, quaisquer que sejam os crimes que cometa.

Partindo do princípio de que o homem não pode fazer senão o mal, Lutero nega a possibilidade de qualquer cooperação na obra da salvação, que é executada por Deus exclusivamente.

O que deve fazer o homem para merecer de Deus tal favor? Ter fé. A fé, segundo Lutero, é a certeza de que os eleitos serão salvos. O homem torna-se justo a partir do momento em que crê firmemente que Deus lhe perdoará os pecados. Esta confiança é a única causa de sua justificação e de sua salvação.

A conseqüência necessária da fé assim compreendida é a inutilidade das boas obras. Lutero não só desmerecia o valor das boas obras, mas desaconselhava a sua prática. Segundo dizia, o homem que leva uma vida virtuosa corre o risco de atribuir a si próprio uma parte da obra da salvação — que cabe exclusivamente a Deus — e passa a confiar em seus próprios méritos. Uma prostituta — dizia o heresiarca — está mais próxima da salvação do que um santo, pois que ela confia apenas na misericórdia de Deus, enquanto o santo confia em suas obras.

A justificação pela fé prescinde do auxílio da graça. Então os sacramentos, canais da graça, perdem a razão de ser. Lutero conserva apenas três sacramentos: o batismo, a penitência e a eucaristia, que passam a ser considerados meros sinais exteriores para excitar o homem na fé. Outra conseqüência natural dessas doutrinas é a negação do caráter sacrifical da Missa, que passa a ser considerada uma mera ceia. Quanto à Eucaristia, Lutero admite a presença real, mas não aceita a transubstanciação. Ensina que a substância de Nosso Senhor coexiste com a substância do pão. A isso ele denomina consubstanciação. Finalmente, condena o culto dos santos e de Nossa Senhora, a veneração das relíquias e das imagens.

Para acomodar a nova religião a todas as paixões humanas, ele suprimiu a abstinência e o jejum, autorizou o divórcio, aboliu os votos religiosos e o celibato eclesiástico.

O orgulho levou Lutero a defender o livre exame, a minimalizar o sobrenatural e a combater a hierarquia eclesiástica. Não admitia a autoridade do Papa nem dos concílios.


No plano moral

As doutrinas de Lutero, no campo moral, abriram livre caminho para o desenvolvimento de todas as paixões. Ao invés de convidar o homem a refrear os seus instintos, é um convite e uma incitação ao pecado. "Deus não salva pecadores imaginários. Seja portanto pecador e peque fortemente" — dizia o heresiarca.

A vida pessoal de Lutero ilustra bem a moral que pregava: beberrão, apreciador de grandes comilanças, profundamente sensual. O seu "casamento" com a ex-freira Catarina de Bora escandalizou até mesmo os seus discípulos mais avançados. A autorização que deu ao príncipe Felipe de Hesse para viver em bigamia desconcertou os seus amigos mais íntimos.

O método que utilizava para afugentar o demônio, quando era tentado, era dizer palavrões. Sempre com êxito, segundo ele mesmo dizia. Nas polêmicas que manteve com os teólogos católicos, usava a linguagem mais grosseira, da qual as obscenidades não estavam ausentes. Os seus discípulos referiam-se à "divina grosseria" de Lutero...


No plano político, social e econômico

As tendências desordenadas do homem "já têm potencialmente, no primeiro instante de suas grandes explosões, toda a virulência que se patenteará mais tarde, nos seus piores excessos. Nas primeiras negações do protestantismo, por exemplo, estavam implícitos os anelos anarquistas do comunismo. Se do ponto de vista da formulação explícita Lutero não era senão Lutero, todas as tendências, todo o estado de alma, todos os imponderáveis da explosão luterana já traziam consigo, de modo autêntico e pleno, embora implícito, o espírito de Voltaire e de Robespierre, de Marx e de Lênin".

As anabatistas, por exemplo, tiraram imediatamente, em vários campos, todas ou quase todas as conseqüências do espírito e das tendências da Pseudo-reforma, dando origem a movimentos pré-comunistas. O caminho que o mundo levou quinhentos anos para percorrer foi percorrido em pouco tempo por esses líderes revolucionários.

Baseando-se no princípio luterano do livre exame, concluíram os anabatistas que cada fiel era inteiramente livre de crer no que bem entendesse e seguir a moral que lhe aprouvesse. O seu nome deriva-se do fato de afirmarem a necessidade de um segundo batismo, que conduziria o homem ao estado de Adão antes do pecado.

Para alguns líderes dessa seita, a tese principal era a comunidade de bens. Tendo-se multiplicado assustadoramente na Turíngia, os anabatistas foram combatidos por católicos e luteranos. Após sofrerem uma grande derrota militar em 1525, o anabatismo ressurgiu na Renânia e nos Países Baixos.

Estabeleceu então como sua grande meta a conquista da rica cidade de Münster. Aos poucos os revolucionários foram se infiltrando na cidade, até que, sentindo-se bastante fortes, apoderaram-se da mesma. As igrejas e as obras de arte foram destruídas e todos os livros queimados, exceto a Bíblia. Os divertimentos, jogos, música e cantos foram proibidos.

Foi estabelecido um regime de terror, que começou a executar os "oposicionistas". Implantaram a comunidade de bens, aboliram os impostos e determinaram que as refeições fossem feitas em comum. Mais tarde foram introduzidos a poligamia e o exame pré-nupcial, e proibiu-se o casamento a certos doentes. O novo regime teve como resultado a fome, a miséria e a anarquia. Os anabatistas acabaram completamente derrotados pelos católicos.



O calvinismo


João Calvino nasceu na cidade de Noyon, na França, em 1509. Apesar de haver recebido uma educação cuidadosa, desde criança mostrava um temperamento arrogante e autoritário. Era desejo de seu pai que ele seguisse a carreira eclesiástica, tendo iniciado os estudos em Paris. Em 1521 tentou obter um benefício eclesiástico, que lhe foi recusado devido aos seus maus costumes.

Aos dezoito anos, seu pai, amigo do Bispo de Noyon, conseguiu-lhe uma paróquia, antes mesmo de haver concluído os estudos. Condenado à morte por haver cometido um crime abominável, conseguiu a comutação da pena, graças à proteção do Bispo, sendo marcado então com um ferro em brasa.

Abandonou então a carreira eclesiástica, dedicando-se ao estudo do Direito. Na Universidade de Bourges, conheceu a doutrina de Lutero, à qual aderiu. Como o Rei Francisco I começasse a perseguir os protestantes na França, fugiu de Paris e estabeleceu-se em Basiléia, na Suíça. Aí redigiu sua obra fundamental, a "Instituição Cristã".

De Basiléia, foi lecionar Teologia em Genebra. Tentou impor na cidade as suas idéias, sendo expulso pela população. Em 1541 conseguiu retornar, e desta vez dominou a cidade, impondo um regime tirânico. Genebra ficou conhecida como a "Roma do protestantismo".

Calvino morreu em 1564, vítima de uma enfermidade ulcerosa que fazia com que seu corpo exalasse odores insuportáveis.



O estilo calvinista


Calvino foi a figura mais sinistra da Pseudo-reforma. Tinha o rosto magro e ossudo. Os pomos eram salientes, e a face era encovada e marcada por profundas rugas. O nariz era grande, fino e pontudo; os bigodes caídos não ocultavam a boca, que era expressivamente desdenhosa, tendo logo abaixo uma barbicha fina. O olhar era frio. A cabeça seca e metida entre ombros estreitos impressionava por uma expressão de dureza implacável, demonstrando um caráter autoritário, rígido e inflexível, que não se dobra diante de nada nem se comove com os sofrimentos alheios.

Ele era um homem que podia passar dez mil anos sozinho. Construía doutrinas, mas as doutrinas eram para uso dele. Se decidisse difundir essas doutrinas, seria apenas para ter pessoas que o aplaudissem. Mas vê-se que, para ele, o aplauso nem era uma coisa muito importante; a coisa importante era o prazer pessoal de ter feito uma doutrina e de se aplaudir a si próprio. No calvinismo há uma espécie de auto-suficiência mórbida, doentia, que quebra os vínculos das almas entre si e cria um tipo de comportamento egocentrista e misantrópico.

Triste, sombrio, Calvino é a encarnação perfeita do "espírito do calvinismo". Não tinha qualquer sensibilidade para a música, nem para a poesia nem para as belezas naturais.

Esta mentalidade é, ao menos em grande parte, fruto de suas concepções a respeito da vida: algo frio, sem graça, mas com a qual o homem deve conformar-se resignadamente, pois não consegue livrar-se do fatalismo pré-estabelecido por Deus. Deus, ao invés de um Ser extraordinário, digno do amor desinteressado por parte dos homens, passa a ser visto como um tirano, que deve ser obedecido servilmente. Entre ele e o homem não há qualquer sentimento de afeto. A religião é um conjunto de normas rígidas e frias, que o homem deve obedecer porque não tem outra saída. A beleza da virtude, o amor de Deus, o sentido de epopéia da vida espiritual, tudo isso está morto no calvinismo.



Principais erros calvinistas



A doutrina calvinista é mais rigorosa e radical que a luterana. Como Lutero, Calvino só admitia a autoridade da Bíblia. Ensinava a doutrina da justificação pela fé e a inutilidade das obras. Um dos pontos fundamentais da doutrina de Calvino é o princípio da dupla predestinação. Segundo esse princípio, o homem não tem livre arbítrio. Tudo o que fazemos decorre de um impulso divino. Deus teria criado uma parte dos homens para fazer o bem e alcançar a salvação, e outra para fazer o mal e receber a condenação. Esta predestinação é fatal.

Os predestinados para o bem se salvam, por maiores que sejam os pecados que cometam, e os predestinados para o mal se condenam, por mais esforço que façam para praticar o bem. É impossível ao homem mudar o seu destino. Portanto, o calvinismo está baseado na idéia de um Deus arbitrário e despótico.

Apenas os predestinados para o bem receberiam a graça de Deus. Calvino só admitia dois sacramentos: o batismo e a ceia. Ele suprimiu a Missa, que foi substituída pela ceia. Não admitia a presença real. O pão e o vinho que compunham a ceia eram meros símbolos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Suprimiu também todas as cerimônias do culto, o altar, e retirou o crucifixo. O culto ficou reduzido à oração e ao canto dos salmos. Na igreja não deveria haver qualquer ornamentação nem imagens. É a manifestação da frieza calvinista.

Calvino aboliu a hierarquia eclesiástica e introduziu na sua igreja o princípio da soberania popular. Os seus seguidores formavam comunidades independentes, dirigidas pelo pastor ou ministro eleito pelos fiéis.

Os calvinistas, além de um ativismo extraordinário, que denotava uma grande preocupação com ação, em prejuízo da vida interior, defendiam um rigorismo moral extremado, uma disciplina dura e triste. Não se deve ver nesse rigorismo uma manifestação de virtude. Santo Agostinho diz que a aparência de virtude do herege provém do orgulho, e não da virtude.



A implantação do calvinismo em Genebra


O grande centro de difusão do calvinismo foi Genebra, que chegou a ser chamada "a Roma do protestantismo". Calvino aí estabeleceu-se, impondo uma ditadura férrea, de caráter teocrático.

Duro para consigo mesmo, Calvino foi duro para com os demais. Foi criado o consistório, um conselho encarregado de fiscalizar a vida particular das pessoas, vigiando o comportamento de cada um. O consistório ordenava visitas a casas particulares, para verificar o ambiente reinante. Havia funcionários encarregados de denunciar qualquer violação dos princípios estabelecidos.

Calvino regulamentou o traje, proibiu a oração em latim, o jogo, as danças e as músicas. Somente podiam ser cantados os salmos, em tom grave. Até mesmo as festas religiosas, como o Natal e a Páscoa, foram suprimidas.

Segundo Calvino, os "hereges", isto é, os que não aceitavam suas doutrinas, deveriam ser reprimidos pela espada. Estabeleceu uma "inquisição", na qual pereceram numerosas vítimas. As penalidades aplicadas eram as mais rigorosas. Não era admitida qualquer oposição. Apesar de os crimes relacionados com a moral serem reprimidos com penas duríssimas, Calvino autorizou o divórcio. Isso fez com que numerosos elementos de outros países emigrassem para Genebra, a fim de se beneficiarem dessa vantagem. Isso provocou uma série de desordens, e Genebra tornou-se, no dizer de um historiador, "o esgoto da Europa".

A ditadura calvinista férrea acabou provocando numerosas revoltas, que foram entretanto dominadas a ferro e fogo. Aliás, sempre que os revolucionários falam de liberdade e de soberania popular, como Calvino, a cena final é a mesma: o estabelecimento da pior de todas as tiranias, pois o demônio tira do homem justamente o que promete.



A difusão do calvinismo


O calvinismo teve grande difusão. De Genebra, passou para os Países Baixos, penetrou na França, na Escócia e na Inglaterra. Na França os calvinistas ficaram conhecidos pelo nome de "huguenotes", corruptela de uma palavra alemã que significa "ligados por juramento". Formaram um poderoso partido político, e por pouco não dominaram o país por ocasião da subida ao poder de Henrique IV, adepto da seita.

Na Escócia, os calvinistas chamaram-se "presbiterianos". O nome deriva do fato de serem dirigidos por um conselho chamado presbitério. A igreja presbiteriana tornou-se a igreja oficial da Escócia. Na Inglaterra foram denominados "puritanos". Os mais radicais constituíram a seita dos "independentes", cuja principal figura foi Oliver Cromwell. Mais tarde os "independentes" dividiram-se em vários grupos, como os "batistas", os "quakers", etc.



O anglicanismo


O reinado de Henrique VIII da Inglaterra começou em 1509. Ele pode ser considerado um modelo do homem renascentista, com suas qualidades e seus defeitos. Brilhante, inteligente, profundamente sensual, vaidoso e invejoso, tinha uma alma despótica e apaixonada. Era um rei poderoso e gozava de grande prestígio.

Quando surgiram os primeiros "reformadores", mostrou-se fiel à Igreja e escreveu (com o auxílio de São Tomás Morus) contra Lutero uma obra em defesa dos sacramentos, o que lhe valeu do Papa Leão X o título de "Defensor da Fé". Movido pelas paixões desordenadas, acabou conduzindo a Inglaterra ao cisma e à heresia.

Por interesses dinásticos, Henrique VIII casou-se com Catarina de Aragão, viúva de seu irmão Artur. Para que o casamento pudesse ser realizado, tornou-se necessária uma dispensa especial da Igreja, visto que ele iria casar-se com uma cunhada. O Papa Júlio II, examinando o caso, considerou justo o motivo e concedeu a dispensa. Dezoito anos mais tarde, Henrique VIII apaixonou-se por Ana Bolena, dama da corte. Pensou então em separar-se de Catarina de Aragão para unir-se a Ana.

O Rei alegava que todos os filhos do sexo masculino nascidos de Catarina de Aragão haviam morrido, e ele precisava de um herdeiro para o trono. Tentou obter da Igreja o divórcio. Alegou que o seu casamento com Catarina era nulo, pois o Papa Júlio II não tinha poder para dar a dispensa que deu. Queria então que a Igreja declarasse a nulidade do casamento, para que ele pudesse casar-se com Ana Bolena.

O Papa Clemente VII, após demorados estudos e muitas hesitações, confirmou a validade do casamento do Rei com Catarina de Aragão. Henrique VIII então revoltou-se, e em 1534 fez com que o Parlamento votasse o "Ato de Supremacia", que declarava o Rei "único e supremo chefe da igreja da Inglaterra". Assim começou o cisma anglicano.

Após uma série de decretos, o monarca promulgou em 1539 a Lei dos Seis Artigos, estatuto religioso semelhante em alguns pontos à doutrina católica. Entre outras medidas, Henrique VIII dissolveu as Ordens religiosas e apoderou-se dos seus bens.

Qualquer oposição à Lei dos Seis Artigos seria punida com a morte. Ela não foi aceita pelos católicos, por negar a autoridade do Papa, e foi rejeitada também pelos luteranos, por ser semelhante a alguns dogmas católicos. Começou então na Inglaterra uma grande perseguição religiosa. Entre os numerosos mártires, destacaram-se São Tomás Morus e o bispo São João Fischer.



Formação da igreja anglicana


Henrique VIII estabeleceu propriamente um cisma, e não pretendeu fundar uma nova religião, embora introduzisse certas modificações na igreja da Inglaterra. Com a sua morte, a Inglaterra sofreu grandes transformações sob o ponto de vista religioso. O seu filho e sucessor Eduardo VI aderiu ao calvinismo. Em seguida governou Maria I, filha de Catarina de Aragão, que restaurou o catolicismo. Finalmente, Isabel, filha de Ana Bolena e sucessora de Maria I, estabeleceu em 1562 a igreja anglicana. O Parlamento restaurou o Ato de Supremacia, mas Isabel não usou o título de chefe supremo da igreja da Inglaterra. Ela se fez proclamar "governador supremo do reino espiritual e temporal".

O anglicanismo consiste numa fusão do Catolicismo com o calvinismo. Do Catolicismo Isabel conservou a pompa, as cerimônias do culto, a liturgia (com as orações traduzidas para o inglês), os trajes sacerdotais e a hierarquia eclesiástica. Os padres e bispos, entretanto, podem se casar. No plano doutrinário ela baseou-se no calvinismo. Os sacramentos foram reduzidos a dois: batismo e ceia, conforme as concepções calvinistas.

A princípio Isabel adotou uma política de tolerância e procurou atrair os católicos. Vendo que sua política não produzia resultados, desencadeou uma violenta perseguição contra todos aqueles que não aceitassem o seu novo credo religioso. Em 1570 o Papa São Pio V excomungou-a e desligou os súditos do juramento de obediência. A "invencível armada" levava exemplares da bula de excomunhão de Isabel nos porões dos navios. Esperava-se com isso um levante dos católicos contra a Rainha herética. Infelizmente — e isso foi mais um castigo para a Inglaterra — a expedição fracassou.